sexta-feira, 5 de março de 2010

Toque



Naquela noite nem sei exato o que fui fazer naquele lugar. Só lembro que dividias as atenções, não sei se de todos, mas a minha, com certeza. A intenção era apenas torna-me cúmplice de mais alguém, te alertei sobre o que eu realmente era, mas continuaste a falar e me deixou observar como tuas palavras me faziam bem. Não sou tão bom de memória assim, só lembro que em uma noite me acompanhaste os olhos cansados que eu possuía, vigiaste com suavidade meu sono, foi quando notei que tua presença se tornara necessidade.  Foi a primeira vez que te amei!


Passaram-se uns dias sem que eu pudesse te ver. Eu até me envolvi com outras coisas no pensamento, mas lembrei no regresso que havias me prometido a permissão de te olhar. Corri ao teu encontro e analisei teu corpo como um escultor analisa os detalhes da sua arte. De maneira nenhuma pensei que poderia te possuir, quis então ter coragem de em todas as noites buscar abrigo na tua presença. Tua voz me fez permanecer acordado, vivo. Tornou-se difícil partir de lá. Passei então a pular janelas e muros, dormia a hora que tinha que acordar, cantava na hora que tinha que calar. Lembras quando subimos naquele palco e cantamos juntos? Aquela voz desafinada que jamais posso esquecer. Me fizeste sorrir, por as mãos no rosto e sorrir. Foi quando te amei pela segunda vez!

Minha vida era dependente do lugar, do momento, das horas que podia te ver. As noites passavam-se todas, a esperança de te ter mais ainda crescia. Eu sempre envolvido com meus amores, confundia membros e rostos, me iludi como um bobo, o mundo sempre deu jeito de fazer isso por mim. Contei e cantei amores, contei e chorei o que eles me retribuíam, e tu passaste a acompanhar essas coisas, não que eu as contasse sempre, mas agora tu também tinhas parte dessas razões. Veio o primeiro desentendimento. Como pode, querermos entender que quando estivéssemos um para o outro, sem impedimento de tempo e lugar estaríamos separados por desejos tão simples de serem esquecidos? Perdoe-me se me impus de mais, mas precisei lutar por ti pela primeira vez – não contemos as janelas e muros que pulei como lutas – falei firmemente que ninguém nos atrapalharia, sozinhos, dois amantes sem o resto do mundo! Olhei para o céu depois disso. Foi quando te amei pela terceira vez!

Corri com a esperança de te ter só pra mim. Tive que passar frio por umas horas e nessa hora eu tava tão perto de ti. Infelizmente nem pudeste me acompanhar e fazer-se calor pra minha necessidade. Gritei teu nome, pensei teu rosto, mas nem tua sobra me acompanhava. Compreendi, já tinha todas as explicações para aquilo. Calei-me, sentei e deixei o frio passar sob o abrigo dos meus braços. Finalmente chegara ao destino que almejei para te tocar, aguardei as horas, os minutos, os dias. Havia o medo do desencontro, mas a garantia da minha felicidade me acalmava...

...

Não fazia 10 minutos, mas a eternidade se estendia em cada passo que traçava minha fronte, até que de longe reconheci teu sorriso brilhante, o ar me faltou o nariz, eu sorria sem ter como pular- calma - eu pensava, nosso momento ainda não era aquele. Te dei então meus braços e me vi em um abraço efêmero que marcou minha alma. Sempre muito falante, esqueci a timidez e acabei soltando em público o que mais queria repartir em voz por dois meses: “eu te adoro”. Eu ouvi um riso meio desconsertado, tímido que junto sussurrava a resposta positiva para qualquer indagação que a afirmação anterior pudesse querer. Passei essa noite inteira buscando nos teus olhos as estrelas que uma canção falava ter. No palco o espetáculo nem se fazia notar por meus olhos, fomos igualmente protagonistas daquele show, catamos juntos, lembra? Tu tens a voz desafinada mais linda do mundo – não consigo largar essa mania de reparar em vozes. Eu aí te amei pela quarta vez.

Se pudesse prolongar aquela noite, faria dela única. Mas nem foi isso o que me fez mais feliz.
Quando a multidão empurrou nossos corpos para um mesmo lugar tive que resistir ao beijo e provar do instante de segurar firme tua mão. Ainda estávamos sob a guarda de olhares proibidos.

Caminhamos até o teatro que poderia abrigar a nossa cena intima. Te olhei meio sem jeito, como se quisesse repetir que estávamos sós, tu ficavas ali, como uma estátua, imóvel. O atrevimento me inspirou a um toque irreal e desejável. Estava preso nos teus braços e extasiado pelo contorno dos teus lábios que me prendiam. Não quis fugir, jamais fugiria, estava perfeito. Tua boca, teu perfume, tua força, teu suor, a primeira vez, o primeiro carinho, o primeiro impulso. O primeiro pra sempre. A primeira lagrima dividida pela felicidade entre nós.

11 comentários:

  1. eu deveria ser a ultima pessoa a comentar aqui =x

    hahaha xD

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  2. Caramba... que lindo *-*... queria saber escrever assim =/

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  3. Desde que eu te conheço,sei que escreves muito bem,e estás te superando!
    Nada mais justo tu dividires isso conosco! adorei o blog,e adorei os poemas! =*

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  4. esse kra é um verdadeiro cronista....contos apaixonantes,
    tas de parabens por textos tao bem escritos, inspiradores.(por sinal, haja inspiraçao né.rs)=muito bom mesmo...flw

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  5. "Naquela noite nem sei exato o que fui fazer naquele lugar..."

    Nesse dia eu sei exatamente o que vim fazer aqui... Vim parabenizar-te por textos tão lindos, textos que inspiram, e como disse o amigo aqui em cima "haja inspiração né"...

    Muitíssimo grata por obras tão inteligíveis e inspiradoras...

    (e nem é pq vc é meu maninho lindo!)

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  6. Como sempre, muito bom seus textos e poemas. xD

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  7. Como sempre, muito bom seus textos e poemas. xD

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  8. bom adorei seu texto...
    e vejo q ñ foi so eu.
    ta de parabéns vc escreve muito bem kra.

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  9. nossa fiquei sem ar,a imaginação aflorou em mim.
    meus parabéns ,um verdadeiro poeta.parabéns mesmo..to meio bobo aqui rsrsrs

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