Vestia-se do luxo, em preto, em veludo e era protegida a sua
janela, enorme, cercada em um vidro que espelhava o sol pela manha e as cinzas
dos seus olhos pela tarde, e no seu fim, fim de tarde. Dia, dia, estava ali,
sentada em solene corpo, admirando os passos que seguiam a rua. O portão em
vezes batia o vento, era então quando se cresciam a vista e a esperança por
algum momento. Ela ali, tomada pela ebriedade em seus leites avermelhados, pelo
cálice sagrado, da vida, do rotineiro. Não pude saber seu nome, mas entendia
uma dor sob os olhos que ardiam quando caía a noite e embriagada se prostrava
ao chão em prantos, por menos um dia. Fervia em dor seu canto sofrido, sua sala
manchada de vinhos óbvios arranhados em paredes de ambiente estilhaçado em
vidros, quando ela enfurecida encostava suavemente sua raiva em taças coloridas
da sua sina obtida pelo abandono.
O que se via daquela casa era uma grande janela, uma janela
e um olhar, este se estendia nas extensões de mais da metade de um rosto, e se
insanizava em cada ponta perdida nas sombras exageradas que maquiavam de delírios
aquela silhueta que aos poucos se movia, sempre nos rumos mais percorridos,
sempre na ordem mais esperada. Ela se perdia, acolhia a droga que a sustentava,
mas que aos poucos a fazia inexistente, era o vício por um amor deixado, por
uma dor comovente e por que não ao sorriso melhor dado? Mas não agora, em um
momento ausente, existente, passado. Não julgaria seus pensamentos, nem sua
espera, nem sua loucura. Era como se ao mesmo tempo a condenasse, e ao mesmo
tempo lhe tinha admiráveis pensamentos. Não vi amor maior que este, escrito em
sua boca seca, borrada pela bebedeira, tocada pela amargura.
Musa que adormecia em deleite estático, imacio, frio,
contorcia-se em meio as gotas despejadas, ensopava-se num rio vermelho escuro,
deixava que a mesma luz do dia a desfizesse em sombra curta e a manchasse no
seu único piso, único cômodo, no seu móvel mais acabado pelo uso, o chão, à
falta de vida.